sexta-feira, novembro 03, 2006

O nome da rua

Perguntei no bar se alguem sabia da historia daquela rua, rua chamada Luiz França. Um senhor negro de barbas brancas cerradas, uma camisa desajeitada aberta até metade do peito e um copo de cachaca do lado me disse: -Foi meu pai. Então por curiosidade, começei a questionar quem foi seu pai ? O senhor, mudou repentinamente sua feição, como se em um instante passasse a embriagues e todo o cansaço que apresentava. Respirou fundo e foi falando.

"Meu pai! pobre coitado... Morou por muito tempo em Coxim, e foi lá onde eu nasci, ele era metido a pescador, afinal, moravamos na capital do peixe. Ainda me lembro do rio Taquarí, muito bonito! Mas meu pai, se mudou para cá e construiu sua vida neste bairro. Ou melhor destruiu a sua vida aqui."

Eu logo enterrompi, mas por isso deram a ele o nome desta rua ?

"Sim, foi isso mesmo meu garoto! Pois só tinha restado ele"

Como assim ? questionei ele interrompendo novamente.

"Calma, calma. Eu te digo como meu pai era, como ele agia, e depois você me responde porque ele ficou sozinho.

Meu pai era uma pessoa sem calma, típico matogrossense que o prometido tinha que ser cumprido a risca ! Não tinha mal entendido com ele não, só tinha o descumprimento do prometido ! Rigido.. percebe ? Então, sua calma era somente quando estava atrapalhando a vida de alguem, e nisso ele era bom ! Como ele não sabia conversar, ele resolvia as coisas do jeito dele, dele digo, que ele achava certo. Perguntar o porque das coisas, não fazia parte da natureza dele. Ele tirava suas proprias conclusões e num tava nem ai pra coisa.

Oia... e quando alguem vinha tirar satisfação com ele, respeito ? num existia... bom, isso num existia nem com a propria mulher dele, que ele tratava como uma cadela, tenho raiva só de lembrar, toda vez ele gritava com ela. E minha mãe, minha mãe era uma dessas mulheres criada pela vida, inteligente, madura e uma morena muito linda. Ah! sempre sinto saudade do seu feijão, que era bom demais ! Tudo que ela cozinhava era bom.

E ele, traia ela com outras, ela não podia ficar longe dele, que logo ele estava correndo pra um rabo de saida. Não tinha nem vergonha, achava que cada mulher catada era um trofeu, e ainda contava para os poucos amigos que restava, como se fosse um trofeu.

Bom, mas o tempo foi passando, as coisas foram mudando, seus amigos, foram se afastando dele, ninguem aguentava meu pai, suas brincadeiras idiotas, sua maneira de tratar as pessoas.

E eu morava junto, não sei como aguentei tanto tempo. As vezes pensava que tudo ia melhorar, mas que ! As coisas só piorava. Parecia um maniconio, ele gritando o tempo todo, passava pela gente e nem pra falar um oi, perguntar como eu estava. Ah! e qualquer ordem, era dada no "Faca isso!" "Você vai fazer isso !" sempre num tom agressivo, nervoso. O diabo do respeito num existia naquela pobre alma. Tinha medo, medo mesmo, uma pessoas dessa faz qualquer besteira as vezes, sabia ? É, pois é.

Rancor, ele sempre tinha, e não se sente feliz enquanto não estorvar a vida do outro. Sabe, como faz uma criança pequena ? Era assim, chegava a fazer as coisas de birra, e sempre com a mentalidade de uma criança.

E com isso, a vida dele era um lixo, parecia que todo mal que ele fazia, voltava em dobro, ou melhor em triplo! era muito mal na vida dele. E eu por ter vivido isso, sempre tive comigo, de nunca desejar o mal pra ninguem.

Olha meu garoto, eu poderia passar o dia falando sobre meu pai, mas agora tá na minha hora, eu tenho que voltar pra casa, encontrar minha patroa e levar essa comida para meus filhos."

Eu respondi já convicto de tudo. "Sem problemas meu caro. Já foi mais que suficiente para compreender os motivos da solidão de vosso pai. Eu também tenho que ir embora, minha mulher também chegará em casa e eu preciso estar lá para ajuda-la na janta". E ele me perguntou:

"E você mora nesta rua?"

Não senhor respondi, moro em uma rua chamada 7 de setembro. E ele me respondeu alegre:

"É um ótimo lugar para se morar, é o dia da independencia".

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